Arquivo de março, 2019

Visitando um grande amigo e cliente na semana do dia 11 de Março, vi uma baixa na produtividade em um dos seus grupos de maior alta performance e o que chamamos de coração para o tipo de empresa que ele tem e o que ele oferece aos seus clientes.

Primeira surpresa foi quando eu cheguei ao escritório dele, totalmente inovador, com espaços para descanso, área de jogos, área para meditar e espaços para assistir algumas palestras sobre determinado tema de uma outra área, tendências de mercado, principais acontecimentos do dia que influenciam o ramo que a empresa está atuando.

Tudo muito lindo por um único detalhe, eu conheço esse meu amigo há 39 anos, ou seja, desde os 6 anos, um cara super competente, trabalhador, mão na massa, parceiro e extremamente dedicado, porém super conservador, eu o compararia com um homem que corre risco ZERO e extremamente controlador.

Ele, lamentando comigo que, gastou uma média de X milhões para modernizar o ambiente de trabalho para seu time e eles não reconheceram nada, que largaram de entregar os projetos e um festival de perdas de prazo começaram a ocorrer, causando até compensações financeiras para os clientes gerando assim prejuízo em alguns casos para a empresa.

Eu o ouvi atentamente na sexta-feira e pedi a ele para ficar na empresa de segunda até quinta-feira e na sexta eu faria uma apresentação no espaço onde eles tem destinado as palestras para dar o disgnóstico.

Comecei na segunda feira e passei por essa área coração ouvindo colaborador por colaborador e o que eu imaginava era exatamente o que começou a ocorrer: não adianta você montar uma sede do Google se você tem o jeito de ser e pensar do “Capitão do Mato” que controla a produtividade, o trabalho, o jeito de se portar e agir dentro da cadeia produtiva, ahhh e se esse profissional pensar então em fugir para outra concorrência, está morto.

Ouvi de 40 colaboradores: 10 homens, 10 mulheres, 20 estagiários (homens e mulheres), o que havia mudado? qual ambiente preferiam mais, o antigo ou o novo Google? O que devia ser feito para voltar ao que era e sugestões de melhora?

O diagnóstico e a apresentação foi chocante para o meu amigo Junior (nome fictício), sua empresa Y é uma das mais renomadas no setor que atua e ele jamais pensou que seu conservadorismo X um ambiente que não é sua alma poderia dar um choque do tamanho que foi bagunçando completamente um clima organizacional que estava em ordem.

O time de Junior era perfeito para a nova sede, a faixa etária era perfeita, o time pronto e focado em resultados, pessoal que tinha um “time” de 70% de home office, 20% de videos conferências para alinhamento de metas e correção de rumos e 10% presencial para apresentação final e entrega dos resultados. Tudo estava perfeito. O que ocorreu então?

Com o escritório novo, Junior exigiu que os funcionários fossem a sede, ao irem a sede, ficaram expostos aos controles internos, os espaços de descanso, cafés e games se tornaram lugares para pessoas não comprometidas se ficassem por mais de 10 minutos, todos com medo, um clima pesado, todos de ombros pesados, o pior ainda estava por vir, Junior mandou instalar um relógio de ponto para registrar e controlar o horário de todos os funcionários.

O diagnóstico final e o apelo de 98% dos funcionários de Junior, todos queriam o velho escritório sem nada de volta, o fim do novo Google e o velho regime de menos tempo no escritório, mais tempo para gerar negócios e cumprir resultados. E os 2% que estavam amando tudo que Junior estava fazendo? Os puxa sacos da organização, que toda organização tem e são verdadeiras ervas daninhas para o fracasso.

Quando apresentei o diagnóstico ao Junior, foi duro, é difícil alguém ouvir críticas do seu jeito de conduzir os negócios, ainda mais quando os números dele são super positivos em mais de 25 anos de carreira, e ver que por seu jeito de ser, de pensar, é positivo com uma forma de gestão mas se mostrou um verdadeiro desastre em uma gestão modinha implantada e pior, gasta, atrapalhando sua empresa.

Recomendei a Junior manter o novo Google por mais 6 meses de experiência com as seguintes ações:

  1. Fim do relógio de ponto e volta do ambiente Home Office/ sede. Time responsável, focado em resultados, altamente criativo não precisa de Capitão do Mato. Ah, lembra dos 2%, os puxas, pois é, a idéia do relógio de ponto foi exatamente de um deles.
  2. Participação do Junior em um momento do café onde há mais funcionários, e não para apressá-los para voltar as suas estações de trabalho mas para ouvi-los naquele momento, participar das conversas deles, se não conhecer o assunto, seja um excelente ouvinte e aprenda.
  3. Jogue junto, descanse também, medite, durma, escute uma música, leia um livro, desfrute do seu gasto, senão ele será inútil. Com isso seu time vai vê-lo como participe e não como quem faz demagogia e hipocrisia focado apenas no lucro.
  4. Demita o Responsável pelo RH urgente pois se ele está dentro da casa e não conseguiu diagnosticar um simples clima organizacional desconecto entre realidade X prática organizacional ele não merece ser um gestor de pessoas. Foi apenas mais um capitão do mato junto com os puxa sacos.

Ontem Junior me ligou agradecendo que o time já havia produzido mais na semana de 17/03 a 22/03 do que o mês inteiro de fevereiro e conseguiram recuperar alguns clientes importantes que estavam começando a aprender por simples falta de atenção, coisa que foi feita com ligações e e-mails mais agradáveis pois o time estava leve de novo.

Perguntei: e você Junior? Como está?

E ele me respondeu: “Um sempre conservador adaptando-se ao mundo desses meninos loucos por qualidade de vida, que parece que trabalham quando querem mas me entregam tudo o que eu preciso e agora no prazo certo de novo”

Ensinamento do caso: Não adianta você querer ser um Google com pensamento de REPARTIÇÃO. Você precisa investir e agir no que realmente sua empresa precisa para continuar no plano de negócios que ela escolheu seguir e não mudar o rumo para MODINHAS que a levarão para verdadeiras confusões de gestão.

Bons negócios.

Observação: A foto não é do escritório do Junior, apenas para ilustrar o post.

O texto de hoje foi de uma publicação no Linkedin de Luciana Ramos Correia, Consultora Sênior de Recrutamento e Seleção que vale muito a pena a leitura e reflexão.

Os créditos seguem no final do texto da Luciana e o artigo foi escrito por Ruth Manus para o blog do Estadão. Um texto primoroso.

O texto, na íntegra, segue abaixo:

O cenário é mais ou menos esse: amigo formado em comércio exterior que resolveu largar tudo para trabalhar num hostel em Morro de São Paulo, amigo com cargo fantástico em empresa multinacional que resolveu pedir as contas porque descobriu que só quer fazer hamburger, amiga advogada que jogou escritório, carrão e namoro longo pro alto para voltar a ser estudante, solteira e andar de metrô fora do Brasil, amiga executiva de um grande grupo de empresas que ficou radiante por ser mandada embora dizendo “finalmente vou aprender a surfar”.

Você pode me dizer “ah, mas quero ver quanto tempo eles vão aguentar sem ganhar bem, sem pedir dinheiro para os pais.”. Nada disso. A onda é outra. Venderam o carro, dividem apartamento com mais 3 amigos, abriram mão dos luxos, não ligam de viver com dinheiro contadinho. O que eles não podiam mais aguentar era a infelicidade.

Engraçado pensar que o modelo de sucesso da geração dos nossos avós era uma família bem estruturada. Um bom casamento, filhos bem criados, comida na mesa, lençóis limpinhos. Ainda não havia tanta guerra de ego no trabalho, tantas metas inatingíveis de dinheiro. Pessoa bem sucedida era aquela que tinha uma família que deu certo.

E assim nossos avós criaram os nossos pais: esperando que eles cumprissem essa grande meta de sucesso, que era formar uma família sólida. E claro, deu tudo errado. Nossos pais são a geração do divórcio, das famílias reconstruídas (que são lindas, como a minha, mas que não são nada do que nossos avós esperavam). O modelo de sucesso dos nossos avós não coube na vida dos nossos pais. E todo mundo ficou frustrado.

Então nossos pais encontraram outro modelo de sucesso: a carreira. Trabalharam duro, estudaram, abriram negócios, prestaram concurso, suaram a camisa. Nos deram o melhor que puderam. Consideram-se mais ou menos bem sucedidos por isso: há uma carreira sólida? Há imóveis quitados? Há aplicações no banco? Há reconhecimento no meio de trabalho? Pessoa bem sucedida é aquela que deu certo na carreira.

E assim nossos pais nos criaram: nos dando todos os instrumentos para a nossa formação, para garantir que alcancemos o sucesso profissional. Nos ensinaram a estudar, investir, planejar. Deram todas as ferramentas de estudo e nós obedecemos. Estudamos, passamos nos processos seletivos, ocupamos cargos. E agora? O que está acontecendo?

Uma crise nervosa. Executivos que acham que seriam mais felizes se fossem tenistas. Tenistas que acham que seriam mais felizes se fossem bartenders. Bartenders que acham que seriam mais felizes se fossem professores de futevolei.

Percebemos que o sucesso profissional não nos garante a sensação de missão cumprida. Nem sabemos se queremos sentir que a missão está cumprida. Nem sabemos qual é a missão. Nem sabemos se temos uma missão. Quem somos nós?

Nós valorizamos o amor e a família. Mas já estamos tranquilos quanto a isso. Se casar tudo bem, se separar tudo bem, se decidir não ter filhos tudo bem. O que importa é ser feliz. Nossos pais já quebraram essa para a gente, já romperam com essa imposição. Será que agora nós temos que romper com a imposição da carreira?

Não está na hora de aceitarmos que, se alguém quiser ser CEO de multinacional tudo bem, se quiser trabalhar num café tudo bem, se quiser ser professor de matemática tudo bem, se quiser ser um eterno estudante tudo bem, se quiser fazer brigadeiro para festas tudo bem!

Afinal, qual o modelo de sucesso da nossa geração?

Será que vamos continuar nos iludindo achando que nossa geração também consegue medir sucesso por conta bancária? Ou o sucesso, para nós, está naquela pessoa de rosto corado e de escolhas felizes? Será que sucesso é ter dinheiro sobrando e tempo faltando ou dinheiro curto e cerveja gelada? Apartamento fantástico e colesterol alto ou casinha alugada e horta na janela? Sucesso é filho voltando de transporte escolar da melhor escola da cidade ou é filho que você busca na escolinha do bairro e pára para tomar picolé de uva com ele na padaria?

Parece-me que precisamos aceitar que nosso modelo de sucesso é outro. Talvez uma geração carpe diem. Uma geração de hippies urbanos. Caso contrário não teríamos tanta inveja oculta dos amigos loucos que “jogaram” diploma e carreira no “lixo”. Talvez- mera hipótese – os loucos sejamos nós, que jogamos tanto tempo, tanta saúde e tanta vida, todo santo dia, na lata de lixo.

https://emais.estadao.com.br/blogs/ruth-manus/a-geracao-que-encontrou-o-sucesso-no-pedido-de-demissao/